Tesouros da fé cristã

"Todo escriba que se fez discípulo do reino dos céus é semelhante a um homem, proprietário, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas" - Mateus 13:52 (versão Almeida Revisada, 1974)

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Local: Rio de Janeiro, Brazil

Um cristão, historiador, que gosta de coisas belas, de ler e de cultivar boas amizades

terça-feira, janeiro 24, 2006

O amor e o poder

Uma das maiores ironias da história do cristianismo é que os seus líderes constantemente caíram ante a tentação do poder – poder político, poder militar, poder econômico, ou poder moral e espiritual – muito embora continuassem a falar no nome de Jesus, que não se apegou ao seu poder divino, mas esvaziou-se a si mesmo e tornou-se como um de nós. A tentação de considerar o poder um instrumento apto para a proclamação do Evangelho é a maior de todas. Estamos sempre ouvindo de outros, e dizendo a nós mesmos, que ter poder (desde que o usemos no serviço de Deus e em favor dos seres humanos) é uma coisa boa. (...) O que torna a tentação do poder aparentemente tão irresistível? Talvez porque o poder ofereça um fácil substituto para a difícil tarefa de amar. Parece mais fácil ser Deus do que amar a Deus, mais fácil controlar as pessoas do que amá-las, mais fácil ser dono da vida do que amar a vida. Jesus pergunta: “Você me ama?” Nós perguntamos: “podemos sentar à tua direita e à tua esquerda no teu reino?” Desde que a serpente disse: “No dia em que você comer desta árvore, os seus olhos se abrirão e você será como os deuses, conhecendo o bem e o mal”, somos tentados a substituir o amor pelo poder. Jesus viveu esta tentação da maneira mais agonizante possível, do deserto até a cruz. A longa e dolorosa história da Igreja é a história de pessoas que vez após vez foram tentadas para escolher o poder no lugar do amor, para controlar ao invés de aceitar a cruz, para ser um líder ao invés de ser liderado. Aqueles que resistiram a esta tentação até o fim, nos dando assim a esperança de fazer o mesmo, são os verdadeiros santos. Uma coisa está bem clara para mim: a tentação do poder é maior quando a intimidade representa uma ameaça. A maior parte da liderança cristã é exercida por pessoas que não sabem desenvolver relacionamentos sadios e íntimos, e por isso fazem opção pelo poder e domínio. Muitos cristãos que construíram impérios para si foram pessoas incapazes de dar e receber amor. Henri Nouwen, In the Name of Jesus: Reflections on Christian Leadership (em português: “O perfil do líder cristão do século XXI” – Editora Atos, 2002 – www.editoraatos.com.br)